A UNIVERSIDADE DO AVESSO Avaliação Institucional CÉLIA MARIA RIBEIRO O que você pensou ao ler este título? A que ele te remete? Consultando colegas descobri que algumas pessoas poderiam pensar que ele é provocativo, enquanto outras considerariam pretensiosos aqueles que acreditam na possibilidade de colocar, mostrar ou ver a Universidade do avesso. Teríamos ainda outras pessoas para as quais, com este título, desejaríamos dizer que a avaliação institucional, ao colocar a Universidade do avesso, estaria criando um clima anárquico. Além destas visões, outras tantas poderiam ser levantadas. A percepção de que o título é provocativo assenta-se na consideração de que utilizamos um recurso de marketing, no mínimo, muito contundente para chamar a atenção do leitor para o tema avaliação institucional. Aqueles que o consideram pretensioso justificariam sua posição dizendo que seria muita pretensão pensar que a avaliação institucional conseguiria tal façanha: a de colocar a Universidade do avesso. Aqueles que vêm nesse título uma proposta anárquica, assim o fazem por considerarem que a Universidade do avesso significaria a própria desordem, o caos, a desorganização, enfim, a Universidade de cabeça para baixo. Para outros, a Universidade do avesso seria vista simplesmente como algo negativo, isto porque aprenderam que avesso atrai coisas ruins, negativas, (na cultura brasileira é comum mães não permitirem que seus filhos deixem roupa do avesso, pois isto dá azar). São várias as interpretações possíveis, todas legítimas. No entanto, gostaria de dizer qual a minha interpretação e por que escolhi este título, que me foi sugerido por um profissional de marketing. Reconheço que a escolha deveu-se mesmo a uma tentativa de chamar a atenção para a questão da Avaliação Institucional, tema tão importante e ainda tão pouco discutido e vivenciado de forma sistemática e criteriosa na Universidade. Nesse sentido, pretendia mesmo provocar o leitor, atraí-lo para um momento de reflexão acerca desta questão. Quanto a ser pretensioso, depende de como se define o termo pretensão. Se você pensar pretensão sem seu caráter negativo, mas simplesmente como aquilo que se pretende, como o objetivo que se tem, então pode-se dizer que é, sim, pretensão de um projeto de avaliação ver a Universidade do avesso. No entanto, também aqui, é necessário compreender o que se entende por avesso. Para meus propósitos, neste momento, defino avesso como a parte de dentro ou, segundo definição do Aurélio, "aquilo que está oculto". Desta forma, posso defini-lo ainda como aquilo que é visto por dentro, através de uma radiografia. Isto porque a avaliação institucional, para mim, implica em ver não só a realidade objetiva, mas também a realidade subjacente. Acredito que a avaliação institucional, em maior ou menor grau, nos revela a Universidade por dentro e que seu objetivo é ver, colocar, mostrar a Universidade do avesso. Dessa forma, avaliar é virar do avesso, sim. É diagnosticar, revelar. Pode-se até mesmo, através da avaliação, descobrir que a Universidade em sua realidade subjacente está vivendo um momento caótico, de desordem ou desorganização. No entanto, colocar a Universidade do avesso não significa criar desordem, caos, desorganização. Quando muito poderíamos diagnosticar um caos já existente e permitir, por isso mesmo, a busca da superação do mesmo. Se considerarmos que seu papel é diagnosticar quais são os pontos nevrálgicos da instituição em questão, a avaliação institucional estará funcionando como um instrumento radiográfico que - considerando a missão, a identidade, as especificidades da Universidade - revela seus pontos fracos e fortes, permitindo-lhe (a seus gestores e sua comunidade), a partir daí, investir na superação dos primeiros e na potencialização dos segundos, em busca de uma crescente qualidade acadêmica. Desta forma, quando escolhi este título queria dizer que a avaliação é um instrumento que nos permite ver a Universidade do avesso, como que numa radiografia que nos fornece um diagnóstico que pode servir como um eficiente instrumento de gestão acadêmica. Com isto não estou dizendo que a avaliação institucional esteja mostrando todo o avesso da Universidade. Primeiro, porque as avaliações feitas até aqui em nosso país ainda não foram globais no sentido de avaliar o mundo acadêmico como um todo (ensino, pesquisa, extensão e gestão); segundo, porque mesmo o nosso projeto, que se propõe a avaliar todas as dimensões do mundo acadêmico, só conseguiu até o momento avaliar quatro Unidades Acadêmicas e quatro núcleos dos chamados Órgãos Administrativos. É óbvio que isto confere uma parcialidade maior a esse avesso que falamos. Por outro lado, nem mesmo os núcleos já avaliados foram completamente colocados do avesso, quer seja porque nenhuma metodologia consegue isto, ou porque a avaliação institucional é bastante recente no Brasil ou ainda porque a metodologia usada na UFG é inédita nas avaliações institucionais feitas nas Universidades Brasileiras, o que implica em limitações. No entanto, independente da interpretação que foi dada ao título escolhido, se você leu o artigo, espero que esteja tomado pelo desejo de colocar a Avaliação Institucional no centro de suas ocupações. Sim, gostaria de vê-lo não preocupado, mas ocupado com a avaliação institucional, pois não importa a visão que você tenha de e da Universidade (a Universidade é plural), desta ou daquela metodologia de avaliação. O que importa é que você faça algo para que a Universidade se avalie e seja avaliada pela sociedade, da melhor forma possível. Acredito que "somos o que somos" independente de ser a nossa auto-avaliação e a avaliação que o outro tem de nós correta ou não. No entanto, a avaliação é sempre uma referência a partir da qual poderemos nos olhar, nos avessar e, então, a partir daí, decidirmos se continuaremos sendo o que somos ou se mudaremos nossa forma de pensar/agir/ser. Enfim, como que você se coloca neste processo de avaliação? Ou, como perguntariam nossos filhos: qual é a sua na Universidade? Ou, qual é a sua com relação à Universidade? -------- Arquivo em formato doc |